Cuidado: o mais “barato” pode ser FRAUDE!


Com toda certeza, e graças aos pobres cavalinhos que morreram para “virar boizinhos”, fraude é a “bola da vez”. Fazendo referência ao que disse Petra, da Danone (ver post anterior), casos de fraude têm aumentado devido aos tempos economicamente mais difíceis – será que é só isso?

O post de hoje não é fundamentado em palestras ou debates do GFSI, e sim sobre reflexões que fiz ao atentar para a frase em negrito de um dos slides da Petra – veja no clipping da esquerda: The much vaunted control of big companies over their supply chains is looking tattered, o que em português significa: “O controle tão alardeado por grandes empresas sobre suas cadeias de suprimentos está parecendo esfarrapado”.

Fonte: site da Conferência


Como estou acostumada a pensar de forma sistêmica, a primeira reflexão que me veio à mente é: será que a culpa é dos tempos economicamente difíceis, ou as empresas é que não estão atentas aos problemas de fraude? Será que a política do “mais baratinho” não pesa nisso? Essa política é cada vez mais comum nos departamentos de compra das grandes empresas: o departamento da qualidade tem de conseguir orçamento de três diferentes fornecedores. De posse desses três orçamentos, o comprador, ou melhor, a empresa, assume que os três são de mesmo nível de confiabilidade. Nada de errado nisto, se os três fornecedores tivessem de fato sido avaliados de forma adequada quanto ao seu sistema de GARANTIA da qualidade.


Ilustrando com fato real, mas obviamente contando o milagre sem contar o santo: em uma auditoria, quando eu estava avaliando o critério de seleção de um insumo – ácido fosfórico, pedi evidências de que fosse de grau alimentício. Foi-me mostrado um laudo de análise do próprio fornecedor, que era coreano. O laudo estava em inglês, claro! Questionei como havia sido feita a avaliação do sistema de GARANTIA da qualidade do fornecedor – não havia sido feita, pois o fornecedor ficava na Coréia e ficaria muito caro. Além disso, era ácido, portanto a empresa o considerou de baixo risco (sim para risco microbiológico – mas e os outros riscos?) e de acordo com sua política, para aprová-lo era só pedir laudo. Assim a compra foi decidida apenas com base nos laudos dos fornecedores e nos seus preços, ganhando o mais barato, com “apenas” 15% abaixo do mais caro! O fato é que não nasci ontem, e sei que milagres não acontecem facilmente. Sugeri à empresa tomar ela mesma uma amostra e mandar para analisar em laboratório confiável (sugeri como critério o laboratório ter certificação ISO 17025 para este tipo de análise).


Resultado: era grau técnico e não grau alimentício!

Conclusão: produto fraudado! “Negócio da China”, não? Mas não vá inferindo que por isso eu tenha preconceito contra produtos da China ou Coréia, não! Conheço muitos casos similares, mas fica apenas este como exemplo.


Próximo post: FRAUDE é assunto para a INTERPOL – Você sabia?
“Stay tuned”: ainda há muito assunto até eu terminar de relatar tudo o que pude captar na Conferência.

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Think Tank e a fraude de alimentos

Conforme prometi anteontem, abordarei a segunda parte relativa ao painel de fraude de alimentos hoje.

Petra Wissenburg, Diretora de Qualidade Corporativa da Danone, França, apresentou o trabalho do grupo denominado “Think Tank”, patrocinado por Yves Rey da Danone, França e Frank Yiannas do Wal-Mart, Estados Unidos. Seus membros são a própria Petra, Fayçal Bellatif e Michèlle Lees da Eurofins, Michell Weinberg e Leticia Halchuk da Inscateche e John Spink, da Universidade de Michigan (ver post anterior). Este grupo foi formado em 2012 com o objetivo de discutir, avaliar e propor como o assunto fraude de alimentos pode ser incluído no Documento das Diretrizes do GFSI. Se de fato incluído, o que parece ser tendência será mais um requisito ou grupo de requisitos a serem cumpridos para obtenção das certificações com base nas normas equivalentes do GFSI.

Nota: Penso que “Think Tank“ deve ter sido inspirado na terminologia usada por jornalistas nos Estados Unidos para designar grupos de pesquisa e de formadores de opinião, em geral relacionados com política social, economia, cultura etc.


 

Petra Wissenburg, Danone, França.
Fonte: site da Conferência

Petra comentou que o assunto fraude sempre foi historicamente “ofuscado” pelo assunto segurança de alimentos, e que em tempos economicamente mais difíceis aumenta a “tentação” de grupos inescrupulosos fraudarem alimentos. Ela explicou que há várias abordagens associadas à prevenção, desde inspeções e testes, auditorias e certificações, avaliações de vulnerabilidade, avaliações de risco criminal e modelagem sócio econômica.

Fonte: site da Conferência


Yves Rey, moderador do painel sobre fraude de alimentos, que é Presidente do GFSI e Diretor da Qualidade, Danone, França, comentou que discutiu com o Conselho GFSI que a questão não é “se”, mas “como” fraude de alimentos deve ser incluída no documento que contém as diretrizes do GFSI.


Yves Rey, Presidente do GFSI e Diretor da Qualidade, Danone, França

Fonte: site da Conferência


Ele acrescentou, ainda, que é importante a colaboração público-privada, explicando que o GFSI se aproximou da Iniciativa Anti-Fraude de Alimentos da Universidade de Michigan com o objetivo da criação de um fórum público, para junto com as indústrias identificar problemas específicos para evitar incidentes de fraudes que impactem a segurança de alimentos.



Fonte: site da Conferência









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Atenção: malfeitores assistem cursos antifraude!

Depois de um almoço patrocinado pela The Coca Cola Company, os participantes da Conferência tinham que se desdobrar em seis, caso quisessem assistir os seis diferentes painéis da tarde do segundo dia da Conferência. Eu bem que tentei, mas consegui me “desdobrar” somente em duas: assisti parte do painel sobre Fraude e parte do painel sobre Qualificação para Mercado Global.


Neste post de hoje vou abordar a primeira parte do que consegui captar no painel sobre Fraude, ficando a segunda parte para o próximo post.

John Spink, Professor e Diretor do Programa de Proteção de Produtos e Ações Antifraude da Escola Criminal de Justiça da Universidade de Michigan, Estados Unidos, iniciou sua palestra alertando que malfeitores assistem cursos antifraude.

John definiu: “a fraude de alimentos é uma ação de adulteração intencional, motivada pela busca de ganho econômico, podendo causar ameaças a saúde do consumidor de maior ou menor grau”. Exemplos: o caso recente da carne de cavalo, PCA vendendo produto sabidamente contaminado, melamina em pet food e em fórmula infantil, ocorrido na China, uso de gelo para pescado feito com água contaminada, dentre outros…

A fraude pode ser caracterizada por: diluição, contaminação, substituição, uso de ingredientes ou aditivos não aprovados, rotulagem falseando algum aspecto (data de validade, origem, etc).

Importante alerta dado pelo professor foi que assim como segurança de alimentos, tanto risco de Food Defense como risco de fraude são responsabilidades da gestão da empresa produtora de alimentos. E o pior é “que estes riscos são provavelmente mais graves que os tradicionais riscos de segurança de alimentos, porque em geral não se está atento para eles”.

John Spink, Universidade de Michigan, Estados Unidos

Foto cedida por Edgard Nemorin, Coordenador de Marketing e Comunicação do GFSI

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Codex e GFSI – Pensando globalmente, agindo localmente

Tom Heilandt, Diretor de Normas para Alimentos do Codex Alimentarius, Suíça, mostrou que o Codex tem crescido muito desde sua implementação, sendo atualmente aceito na maior parte do mundo. Por serem estabelecidas com base científica através do consenso de experts de todo o mundo, as normas do Codex têm sido usadas pelos seus membros como base para a adoção de padrões regulatórios.

Tom explicou que o maior desafio do Codex é a busca de regulamentação, o mais harmonizada e global possível, para propiciar o comércio entre os países, mas, na prática, os países têm diferentes maneiras de fazerem as coisas, diferentes necessidades e capacidades e diferentes níveis de proteção da saúde de sua população.

Com a ideia de pensar globalmente, mas agir localmente é que foram criadas as Comissões de Coordenação Regionais. São seis comissões de coordenação: para a África, em Camarões; para a Ásia, no Japão; para a Europa, na Polônia; para a América Latina e Caribe, na Costa Rica; para o Oriente Médio, no Líbano; e para a América do Norte/Sudoeste do Pacífico, na Papua – Nova Guiné. Cada comissão de coordenação tem a função de definir os problemas e necessidades da região sobre padrões alimentares e controles de alimentos, promover contatos para a troca de informações sobre as propostas de iniciativas de regulamentação, estimular o fortalecimento da infra-estrutura local de controle de alimentos, exercer um papel de coordenação geral para a região e recomendar o desenvolvimento de padrões globais para produtos de interesse da região.

Foto de slide feita durante a Conferência


Codex e GFSI

Uma grande discussão atual é o monitoramento da performance regulatória dos sistemas nacionais de controle de alimentos, qual sua métrica, e se estas podem ser usadas para comparação entre países. Tom finalizou informando que há um objetivo de ter uma Diretriz Codex para este fim até 2014, e o GFSI pode contribuir muito com o Codex a respeito deste assunto.

Tom Heilandt, Codex Alimentarius, Suíça
Fonte: site da Conferência




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O sistema de gestão de segurança todo deve ser desafiado

No momento estou fazendo meu terceiro turno em Três Corações, Minas Gerais, e para aguentar o sono, estou bebendo um delicioso Capuccino Diet Três Corações, que descobri que não é feito em Três Corações, e sim em Santa Luzia, Minas Gerais.

Deixando de lado os corações, vamos continuar hoje com a ajuda da amiga Ana Cláudia Peluso, da Novozymes do Brasil, a quem agradeço pela colaboração. Para você que está acompanhando o blog, já deu para perceber que é tanta coisa que acontece por lá, tantos eventos paralelos, que a gente não consegue ir a todos. E foi isso que ocorreu em um café da manhã patrocinado pela LRQA – Lloyd’s Register Quality Assurance, do qual ela participou e eu não, mas sobre o qual ela gentilmente escreveu para o Direto do GFSI.

Ana Cláudia Peluso e minha xará Ellen Watanabe indo para o evento.

Fonte: site da Conferência do GFSI 



A palavra agora é da Ana:
           
A palestra do Cor Groenveld, Diretor Global de Serviços de Food Supply Chain, do LRQA, chamou a minha atenção basicamente pela mudança de metodologia que as auditorias em Food Safety devem trazer para as empresas. Temos de sair de modelos com foco em inspeções superficiais do sistema, para um modelo onde o sistema de gestão todo deve ser desafiado. Sim, posso dizer desafiado, pois a empresa deverá demonstrar a eficácia do seu sistema de gestão. Os pontos principais desta mudança devem ser: foco na segurança do consumidor, mais auditorias em fornecedores e uma profunda mudança cultural. TODOS devem falar a mesma língua. Começando da alta direção até a área de recursos humanos e financeiros. Isto tudo pressupõe ter mais auditorias internas, devendo haver muito investimento na formação de auditores internos para Food Safety.

Cor Groenveld, LRQA, Reino Unido

Fonte: site do LRQA


Na fase de implementação é fundamental trabalhar com consultores altamente capacitados para que o sistema seja de fato eficaz. A empresa deve ser capaz de evidenciar esta eficácia, tanto nas partes que o compõem, como no todo. Exemplificando: eficácia do sistema de limpeza, do detector de metais, dos PCCs ou ainda, se efetivamente foi feita uma análise de todos os riscos.


Retomando a palavra, agora num diálogo entre mim e a Ana:
            
Ellen para Ana: “Eu fiquei bastante entusiasmada com esta forma de pensar, pois é assim que nós da Food Design pensamos, ou seja, temos de desafiar o sistema. Tenho me especializado no desenvolvimento destes “challenges”, tanto para Food Safety como para Food Defense, tendo tido como escola o sistema GMA SAFE – Supplier Assessments for Food Excellence. (Mais uma sistema de certificação? Não! Apenas o melhor sistema de auditoria que conheço para uma avaliação realmente profunda, desafiadora e consistente do sistema de gestão da qualidade e da segurança de alimentos).” 

Ana para Ellen: “A abordagem que vocês estão fazendo é a mais apropriada, é a que faz sentido não é!? Um sistema deve ser robusto por inteiro, com o envolvimento de todos. Se não, é só “para inglês ver”. Acho que isso é importante indicar.”

Aguarde o próximo post com a visão do Codex Alimentarius:  Equivalência – pensando globalmente, mas agindo localmente







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213% de crescimento em três anos é um bom resultado?

Iván Báez, Sócio e Gerente Geral da Empresa Eman, no Chile, muito entusiasmado com sua estratégia de busca de produção de alimentos mais seguros, mostrou que isso não resultou somente no cumprimento de exigências legais, mas possibilitou que sua empresa atingisse novos clientes e novos mercados. Iván observou um “adorável” efeito secundário à implementação de um sistema de gestão da segurança de alimentos: a melhoria da qualidade e da produtividade, com um crescimento nas vendas de 213% em três anos.

 A Eman é uma pequena empresa dedicada à produção e engarrafamento de licores de creme, localizada na região de Araucanía, no Chile. A empresa nasceu em 2006 por iniciativa de Iván e mais dois empreendedores, que fundaram o negócio com 40.000 Euros e tiveram muito sucesso com a produção de um licor muito típico chileno chamado “Cola de Mono”. Mais recentemente passaram a se dedicar também à produção de creme alcoolizado, que conseguiram exportar para a produção do famoso licor Bailey’s.

O empresário contou que iniciou em 2009 a implementação de GMP, tendo a seguir se empenhado na implementação de um dos sistemas de gestão da segurança de alimentos reconhecidos pelo GFSI, conquistando a certificação em 2011.

 Iván Báez, da empresa Eman, Chile

Autor da foto: Cong Xue, constante no site da Conferência.


Os resultados mostrados durante a Conferência falam por si próprios.

 Autor foto: Ellen Lopes


 Autor foto: Ellen Lopes


Autor foto: Ellen Lopes


Finalizo este post esperando que, este exemplo, possa ser fonte de inspiração para nossos pequenos e médios empresários.
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Como é segurança de alimentos na China?

Segundo Zaotian Wan, Vice Presidente da COFCO Corporation da China, é assim: 食品安全.

Brincadeiras à parte, segundo o palestrante, a COFCO – Corporação Nacional de Cereais, Óleos e Produtos Alimentares da China, fundada em 1952, é a maior empresa de processamento e de comercialização de alimentos daquele país, e é uma das maiores empresas estatais chinesas.

Zaotian falou sobre a Segurança de Alimentos Mundial: o exemplo chinês, explicando que a China ainda tem muito a desenvolver na área de segurança de alimentos. Ele relatou que, em 2010, houve 173 casos de “intoxicação” alimentar registrados na China, envolvendo o número de 6.272 pessoas e 146 mortes. Curiosamente, o palestrante citou os respectivos números registrados nos Estados Unidos: 1,28 milhões e 3.000. Pensei ter entendido errado, mas nos slides cedidos pelo palestrante, traduzidos para o inglês, realmente aparecem os números dos Estados Unidos entre parênteses. Fiquei me perguntando se esta seria alguma técnica governamental para minimizar o fato, admitido por ele mesmo, de que a segurança de alimentos lá ainda é incipiente. É claro que a captação ou a informação, ou ambos parecem ainda não ser de “alta precisão”.

Wan explicou que o cenário das indústrias de alimentos na China é constituído por pequenas empresas, de baixo grau de automatização, dispersas em várias regiões, o que dificulta o controle. Exemplificou: para processamento de trigo, somente 1% das empresas têm capacidade de processamento acima de 1.000 toneladas por dia, enquanto nos Estados Unidos esta porcentagem é de 50%. Acrescentou que a China é menos harmonizada que em países desenvolvidos, sendo o sistema de padrões legislativos incompleto, com a adoção de padrões internacionais abaixo de 50%, com inconformidades e sobreposição dos padrões. Há falta de análise de risco e de investigação de novos poluentes, falta de cadeia de frio suficiente, falta de integridade das empresas e há alta deterioração do meio ambiente.

Wan revelou que, nos últimos anos, a maioria dos incidentes de alimentos foi causada pela contaminação intencional, o que leva o desafio para a área de Food Defense.

A segurança de alimentos está intimamente ligada com o negócio internacional da economia global, e os consumidores chineses têm se preocupado com a intensiva exposição na mídia de casos envolvendo segurança de alimentos, como foi o caso da melamina no leite. “A entrada do governo tomando a segurança de alimentos como parte dos sistemas de engenharia social e de meios de subsistência está levando o sistema de vigilância sanitária e a cultura de alimentos a se formarem gradualmente: até o final de 2010, mais de 6.300 instituições nacionais de alimentos para análises de segurança de alimentos foram estabelecidas, a supervisão da segurança de alimentos foi reforçada e foi criado um mecanismo de resposta a emergências de segurança de alimentos. Os controles têm aumentado constantemente, citando que 27.369 empresas produtoras de alimentos foram inspecionadas de 2006 a 2010”. Mais uma vez achei que poderia ter entendido mal, seria 2010 mesmo? Mas confirmei no slides cedidos, que não contemplam dados mais recentes.

Wan concluiu que, para fazer frente com este cenário, a COFCO publicou em 2009 os “Dez Princípios de Gestão da Segurança de Alimentos” estando, a empresa, disposta a trabalhar com as associações, a academia, a mídia e os consumidores, para melhorar a situação de segurança de alimentos. Wan observou que a empresa estatal não opera todos os elos da cadeia de abastecimento de alimentos, mas tem o objetivo de influenciá-los. E acrescentou “o GFSI é necessário para construir uma plataforma de comunicação para fabricantes de alimentos e varejistas, compartilhando, juntos, a experiência para melhorar o nível da segurança de alimentos”.

Zaotian Wan, da COFCO, China.Autor da foto: Cong Xue, constante no site da Conferência.




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Existe essa coisa de alimento produzido localmente?


Ao escrever sobre esta palestra, percebi que o tempo que tive livre em Barcelona acabei gastando em boa parte, vejam só, com alimentos produzidos localmente! Com meu marido saboreei uma deliciosa paella, com muito sabor e “cor” local no restaurante Caracoles, fundado em 1835. Em Sitges, nos arredores da cidade, comi uma entrada de melão com presunto ibérico pata negra tipo bellota. Este presunto é produzido a partir de porcos negros, de raça ibérica, criados não confinados, e se alimentam com nozes de carvalho. Em Vic, encantadora cidadezinha, a 70 km de Barcelona, visitamos uma tradicional casa de embutidos produzidos localmente, uma famosa casa de chocolates lá produzidos artesanalmente, e um restaurante divino, o Ca L’u, onde me deliciei com arròs negre e bescuit cremat amb xocolata tudo claro, feito localmente.

Mosaico decorativo em uma loja de embutidos em Vic, Espanha.

Autor da foto: Ellen Lopes



Embutidos, Vic, Espanha


Isso tudo me fez lembrar o interessante questionamento colocado por Valentin Almansa de Lara, Diretor do Departamento de Saúde de Produtos Animais e Vegetais do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da Espanha, sobre a crença de alguns consumidores de que a produção local possa ser mais segura: “num mundo interconectado globalmente, mesmo alimentos produzidos localmente podem resultar em eventos de dimensão internacional. Deu como exemplo o evento da E. coli O104:H4 ocorrido em 2011, ligado a broto de feijão, envolveu apenas na Alemanha, mais de 4 mil pessoas infectadas e 48 mortes, afetando também um grande número de consumidores, de pelo menos 16 países, que tinham viajado para a Alemanha”.
“O sentimento relacionado ao seu país, ou à sua região, à sua tradição, do que é bem conhecido e familiar é que traz esta sensação de segurança”, discorreu ele. Este sentimento pode ser explorado como estratégia de marketing, que ele chamou de “marketing defensivo”, o que pode interferir no preço, para maior ou para menor, conforme a situação. No caso da E. coli 0104:H4 acima mencionado, os produtores espanhóis sentiram na pele este efeito, pois, como num primeiro momento, culpou-se os pepinos exportados pela Espanha, eles tiveram que baixar o preço para poder recuperar mercados.

Valentin Almansa de Lara, Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente, Espanha

Autor da foto: Cong Xue, constante no site da Conferência.

Felizmente os produtos locais que degustei não provocaram nenhum evento de dimensões internacionais ao longo da viagem. Ainda bem, porque “evento internacional” em avião é algo coisa nada agradável.





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Brasileiros no GFSI 2013

Nesta sexta feira só farei um post curtinho sobre a participação dos brasileiros, porque estou em contagem regressiva para voltar ao Brasil e hoje não terei mais tempo para me dedicar ao blog.

Na semana próxima continuarei postando os resumos das palestras a que assisti, provavelmente no ritmo de um post sobre uma palestra ou sobre a parte social, pois retorno à rotina de trabalho. Nesta semana, eu havia tirado uns days off, ou melhor, “semi-off”, já que todos os dias trabalhei um pouquinho no blog.

Sobre os brasileiros, neste ano tivemos oito participantes do Brasil inscritos na Conferência. Já é o dobro do número de 2009, quando comecei a participar do evento. Mas ainda somos poucos, para um país que é um grande player no cenário da exportação de alimentos, e isso sem considerar a importância da segurança de alimentos para nossa própria população.

Apenas para comparar, os Estados Unidos tiveram 223 inscritos no catálogo do evento!

Consegui fazer foto de cinco destes brasileiros, sendo que um deles sou eu mesma.  Não contei o Reinaldo Balbino Figueiredo, que aparece em uma das fotos, porque ele estava pela ANSI, dos Estados Unidos, e portanto não participava como inscrito do Brasil.

Reinaldo Balbino Figueiredo da ANSI, Ellen Watanabe e Ana Cláudia Peluso,

 ambas da Novozymes Latin America

Ellen Lopes da Food Design, Maurcío Kamei e Juliani Kitakawa, ambos da DNV Brasil.










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Redes Globais de Segurança de Alimentos- perspectiva de um varejista: Carrefour, Espanha

Hoje mostro o ponto de vista sobre Redes Globais de Segurança de Alimentos, pelo olhar de Mariano Rodriguez Moya, Diretor da Qualidade e do Desenvolvimento Sustentável do Carrefour, Espanha, que está no ponto de venda, em contato diário com o consumidor.

Já no resumo disponibilizado antes do evento, Mariano relata que “como um varejista de alcance global, é fundamental contar com uma rede para trocar informações e poder detectar assuntos emergentes de segurança de alimentos”.

Durante sua palestra, Mariano ressaltou a necessidade de se antecipar e de minimizar os riscos para garantir e proteger a identidade dos produtos através de sistemas de rastreabilidade, em combinação com monitoramento contínuo.

Ele acrescentou uma nota de advertência referente ao mercado espanhol, porém, a meu ver, aplicável a mercados em dificuldade econômica: a crise econômica na Espanha está levando a novas pressões que podem afetar a segurança de alimentos, pois, nacionalmente, há uma redução dos controles analíticos e da qualidade, combinado a cortes nos investimentos de pesquisa.

Daí em diante, se o problema vai “para a rua”, apenas correções são possíveis. Talvez esta seja uma lição que não deve ser copiada: na crise, cortes devem ser feitos com muito cuidado para que “o barato não saia caro”. Desculpem-me a comparação, mas o exemplo de Santa Maria é o mais contundente exemplo que já vi do “barato que sai caro”.

Mariano deu grande ênfase à rastreabilidade, aspecto de fundamental importância. Permito-me, porém, comentar que muitas vezes a rastreabilidade é vista como uma ferramenta com poder de resolver problemas. Na realidade, a rastreabilidade por si só não resolve problemas, mas, sim, permite localizar, circunscrever e, eventualmente, permitir que o problema seja extirpado. 

Contudo, devo ressaltar que a garantia e prevenção durante processo é que ainda deve merecer atenção número um.



Mariano Rodriguez Moya, 
Diretor da Qualidade e do Desenvolvimento Sustentável do Carrefour, Espanha.



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Redes Globais de Segurança de Alimentos – perspectiva de um fabricante: Nestlé

A importância das redes globais de segurança de alimentos, sua estrutura, exemplos e desafios foram abordados de forma brilhante por Richard Stadler, do Grupo de Especialistas em Segurança de Alimentos, Nestlé Ltda., Suíça.

Começando pelas razões da existência de tais redes, Richard enumerou a necessidade de melhoria de competência, troca de experiências, identificação de gaps, busca de solução para problemas específicos e estabelecimento de diretrizes e normas.

Sobre estrutura, ele identificou dois tipos principais de redes: as redes orientadas por ciência e tecnologia e as redes de especialistas em determinado assunto ou negócio. Muito clara ficou a importância de participar e acessar redes de alerta rápido, que cobrem problemas relativos à segurança de alimentos, à conformidade legal ou à nutrição, que podem ser reais ou apenas “percebidos”.

O especialista mostrou como um adequado monitoramento pode prevenir uma crise. A linha crescente de evidência, até problema, incidente e geração de uma crise pode ser interrompida quando decisões e ações rápidas são tomadas ao ser evidenciado que de fato há problemas.

E quais são hoje as principais fontes de informação sobre problemas potenciais? Richard mencionou as redes especializadas da própria empresa, redes externas (como ILSI, IFSQN etc), análise de tendências e monitoramento das informações da internet.


Richard exemplificou ações tomadas com apoio de redes para redução ou eliminação de potenciais contaminantes. Dos exemplos dados, um foi relativo às pesquisas de SEM – semicarbazida, realizadas com o apoio da JIG – Joint Industry Group on Packaging for Food Contact.



Richard Stadler, Nestlé, Suíça

(Foto cedida pela Coordenação de Marketing & Comunicação do GFSI)


Amanhã, postarei o ponto de vista sobre Redes Globais de Segurança de Alimentosperspectiva de um varejista: Mariano Rodriguez Moya, Diretor da Qualidade e do Desenvolvimento Sustentável do Carrefour da Espanha.



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Colaboração para a produção da Conferência

Um fato que sempre me chama a atenção nestas Conferências do GFSI é a grande rede de colaboração que se estabelece para a concretização deste evento, em nível cada vez mais amplo e elevado.

Como já mostrei em outras vezes, tudo é patrocinado: o café da manhã, os materiais, os coquetéis, almoços e jantares. Muita gente purista poderá até pensar: ah, é tudo comércio! E há razões para se pensar nisso, mas, deixando o purismo de lado, podemos observar como é sensacional e como se pode ir muito longe se uma rede de colaboração com objetivos comuns é estabelecida.

O GFSI tem conseguido amalgamar interesses graças ao trabalho voluntário de seus membros e ao patrocínio das empresas, interessadas, sim, em seus negócios, mas negócios com base em segurança do consumidor.

Uma mostra dos patrocinadores. A foto não ficou muito boa, mas o que eu pretendo é mostrar quais empresas patrocinaram.

  

Exemplos: no primeiro dia da Conferência, o café da manhã e o coffee break foram patrocinados pela Mondelēz, e o coquetel foi patrocinado pelo BRC – British Retail Consortium. No segundo dia, os coffee breaks foram patrocinados pela Cargill, Danone, Kroger e Mc Donald’s; o almoço foi por conta da The Coca Cola Company e o jantar foi patrocinado pela DIGI (empresa atuante em equipamentos para lojas de varejo).

Como vocês podem perceber, comida não faltou. E na próxima Conferência, você já fica sabendo que com alimentos você não vai gastar!


Convite e Menu do jantar patrocinado pela DIGI





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