Segurança dos alimentos de orgânicos é melhor? Mito ou verdade? Parte 1 – Contaminação microbiológica


Dr. Friedrich-Karl Lücke, Professor de Microbiologia dos Alimentos e de Gestão de Segurança e Qualidade de Alimentos da Universidade de Ciências Aplicadas de Fulda, Alemanha, mostrou dados de revisão da literatura científica sobre a presença de perigos em alimentos orgânicos em comparação com os alimentos convencionalmente produzidos, que de ora em diante denominaremos de “convencionais”.


Dr. Friedrich-Karl Lücke

Fonte da foto: http://www.ikv.uu.se/Education/Internationalization/    

Dr. Friedrich é também membro de várias comissões e grupos de trabalho sobre higiene alimentar e padrões microbiológicos.
Contaminação microbiológica
Segundo revisão do Dr. Friedrich, na prática  não há grandes diferenças significativas na prevalência de contaminação por bactérias patogênicas (tais como Salmonella, Campylobacter) ou agentes zoonóticos em alimentos de origem animal nos orgânicos X “convencionais”, conforme slide abaixo, embora na produção orgânica fosse teoricamente esperado que essa contaminação pudesse ser maior, já que os animais ficam mais expostos, posto que são mantidos mais ao ar livre.

Palestra Dr. Friedrich-Karl Lücke Friedrich.

Fonte: site da Conferência.



As pesquisas também indicam que o uso de fertilizantes orgânicos não aumenta a taxa de contaminação de produtos frescos por patógenos entéricos, desde que estes fertilizantes orgânicos sejam obtidos através de BPAs – Boas Práticas Agrícolas (em inglês: GAP  – Good Agricultural Practices). De acordo com as BPAs, os resíduos orgânicos devem ser decompostos por fermentação anaeróbica durante processo de  compostagem para obter  o húmus, para não haver problemas com patógenos.
Embora tenha havido surtos de infecção por E. coli STEC (produtoras de toxina Shiga) em vegetais orgânicos, as causas estão relacionadas a flagrantes violações às as BPAs, concluindo-se portanto que não é o não o sistema de agricultura (Marine et al. 2015), e sim falhas de BPAs as causas de tais surtos.
Aqui vai uma relação de algumas lições aprendidas a partir de estudos de surtos de E.coli STEC em vegetais orgânicos:
  • nunca usar água contaminada por fezes humanas ou animais para irrigação
  • respeitar prazo adequado para aplicação de estrume antes da colheita -prazo deve ser suficiente para inativação dos patógenos
  • cuidar da higiene dos manipuladores para não haver contaminação
  • evitar a presença de animais selvagens na plantação.

Menor uso de fungicidas resultaria em presença de mais micotoxinas?
Não. Toxinas produzidas por Fusarium (fumonisinas e os tricotecenos são as mais comuns) são frequentemente encontradas em baixas concentrações em cereais. Restrições o uso de fungicidas e inseticidas nos cultivos orgânicos não levam a uma maior prevalência destas toxinas em produtos derivados de cereais orgânicos, como se poderia pensar. Isto se explica porque na agricultura orgânica, os fungos e os insetos são controlados pela rotação de culturas, ou porque a restrição ao uso  de fertilizantes nitrogenados reforça os mecanismos de defesa contra ataque de fungos.

Aguarde a Parte 2, sobre Contaminação química.

Autor: Ellen Lopes, Food Design & IRSFD.

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Agora é com você: afinal, segurança dos alimentos de orgânicos é melhor que dos “convencionais”? Mito ou verdade? Comente suas conclusões. 
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4 Comentários

  1. Obrigada por seu comentário. Derrubando mito do ponto de segurança de alimentos, sim, até que a ciência mostre o contrário. Mas sob outros pontos de vista os orgânicos apresentam vantagens sim. Do ponto de vista de segurança do trabalhador, os orgânicos representam real redução ou eliminação de risco de exposição ocupacional. E do ponto de vista sócio ambiental, há vantagens para o produtor, que pode conseguir melhores preços; para o meio ambiente, evita-se a extinção de algumas espécies de menor amplitude ecológica e o acúmulo de resíduos de defensivos agrícolas na cadeia alimentar (não me refiro à cadeia de alimentos).

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