Retomando o que ocorreu no primeiro da Conferência, na parte da manhã participei do Stakeholder Meeting, conforme relatei em um dos posts anteriores. Na parte da tarde houve uma série de palestras, uma mais interessante que a outra, sendo que duas delas também já foram comentadas em posts anteriores com a colaboração da Juliane Dias Gonçalves, a quem mais uma vez agradeço.
A seguir, comento sobre as demais apresentações do primeiro dia:
Evolução do sistema de produção de alimentos: benefícios, tendências e riscos
John D. Floros, Professor do Departmento de Ciências de Alimentos da Pennsylvania State University, iniciou com uma frase de Winston Churchill resumindo a ideia central de sua apresentação: “quanto mais distante você conseguir enxergar para trás, mais longe poderá ver a sua frente”.
John fez uma restrospectiva histórica das mudanças no sistema de produção e distribuição de alimentos, pontuando que o sistema é complexo e que muda ao longo do tempo e do espaço. Ilustrou este fato comentando que 60% das frutas e verduras e 80% dos frutos do mar hoje consumidos nos Estados Unidos são importados, e que a inspeção física se restringe a somente a 1% do volume total. Para mim, este é mais um dado que aponta na direção de um sistema mundial mais preventivo do que baseado em inspeção.
John acrescentou que durante a segunda metade do século 20 a população mundial dobrou de tamanho, com uma enorme migração das áreas rurais para centros urbanos, sendo que no mesmo período a produção de alimentos aumentou mais que o dobro. Sua conclusão é que a evolução tecnológica no processamento de alimentos foi e continuará sendo um elemento crítico na equação de como produzir mais para uma população mundial que continua a crescer e que se torna cada vez mais complexa. Para que esta evolução se processe na velocidade necessária, John afirma que a sociedade deve investir em pesquisa aplicada e educação e que os cientistas devem trabalhar juntos ressaltando que a área acadêmica, por sua vez, deve colaborar com os outros stakeholders da cadeia de alimentos.
O avanço da segurança de alimentos através da colaboração
Frank Yiannas, Vice-Presidente de Segurança de Alimentos Corporativo do Walmart, Estados Unidos, e Yves Rey, Diretor Corporativo para a Qualidade da Danone, França, abordaram o desafio atual da humanidade de como fornecer alimentos seguros a preço acessível em uma muito bem concatenada apresentação em formato de “bate-bola”: um falava e o outro complementava.
Após apresentarem uma nova visão histórica das mudanças no sistema produtivo e de distribuição, comentaram sobre a atual evolução do varejo de alimentos. Enfatizaram a relevância da visão holística do “campo ao garfo”. (Aqui, gostaria de acrescentar um comentário meu: até algum tempo atrás falava-se em do “campo à mesa”, mas a visão mais atual incorpora o “garfo”, simbolizando o último elo da cadeia, que é o próprio consumidor. Até recentemente o impacto do tratamento dado pelo consumidor vinha sendo relegado a um segundo plano, o que deve ser absolutamente repensado e considerado por todos os atores da cadeia de alimentos, como demonstrado na palestra da Dra. Bruhm que comentarei em um post futuro.)
Yiannas e Rey chamaram a atenção para o fato de que embora o número anual de vítimas fatais de doenças veiculadas por alimentos (1,8 milhões de pessoa por ano conforme dados da OMS) corresponda a 91 terremotos seguidos de tsunamis com intensidade comparável à do que atingiu o Japão em 2011, ou a 986 furacões com o poder de destruição do Katrina, a sociedade mundial não tem dado a devida atenção a esse fato.
“O século XXI requer uma maior colaboração mundial de todos os atores da cadeia de alimentos. Somente com o aumento de responsabilidade compartilhada por todos é que poderemos fazer face aos desafios. O sucesso é vital para a nossa sobrevivência. Temos a obrigação de ter sucesso”, concluiu a dupla de palestrantes.
Reunindo os Stakeholders
Jürgen Matern, Vice Presidente de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios da Metro, rede varejista com sede na Alemanha, discutiu o papel do GFSI como plataforma que possibilita reunir os diferentes atores da cadeia global de alimentos, e que discute as melhores práticas e o caminho a ser trilhado pela cadeia de suprimentos com os maiores especialistas de segurança de alimentos do mundo.
Jürgen discorreu sobre a estratégia atual do GFSI para possibilitar maior colaboração mundial entre todos os atores da cadeia de alimentos: criar links entre organizações e organismos regulatórios, construir confiança em certificações de terceira parte, melhorar a comunicação e a expansão geográfica.
A seguir, mostrou resultados de uma pesquisa da Unversidade de Aarhus, na Dinamarca, sobre em quem o consumidor mais confia: 62% nos produtores, 61% nos varejistas e 50% no governo.
Para avançar na segurança global de alimentos através da colaboração, Jürgen propôs aos participantes intensificar o intercâmbio de conhecimentos entre especialistas, o intercâmbio de dados e uma comunicação cada vez mais aberta em toda a cadeia de alimentos, conclamando ao final “Just do it!”.
Creio estar contribuindo um pouquinho para tanto, já que este é o terceiro ano em que estou divulgando, através deste blog, as mais importantes conclusões do maior evento anual do GFSI. Posso sugerir que você também ajude a divulgar o conteúdo da Conferência? É só mandar o link deste blog para os seus colegas e conhecidos da nossa área. Obrigada, e até o próximo post!
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