Eu nunca havia imaginado que a Interpol cuidasse de fraude também. Os leitores que, como eu, não sabiam disso, provavelmente ficarão surpresos a respeito das proporções que este problema tem atingido.
Simone Di Meo, Diretor de Inteligência Criminal da INTERPOL, França e da Europol, na Holanda reportou que, em 2012, a Comissão de Taxação e Alfândega da União Europeia apreendeu mais de 1,1 milhões de artigos entre alimentos e bebidas nas fronteiras da UE, incluindo desde produtos de luxo, como vinhos e produtos sazonais para datas festivas, como produtos de uso diário, como chá, confeitos e condimentos. Estas fraudes podem envolver desde falsificação de marcas e ou origem, até o uso de outros ingredientes perigosos ou não à saúde.
Di Meo apresentou os objetivos da INTERPOL da Europol, relatando, a seguir, as ações conjuntas que a INTERPOL vem fazendo com a Europol sobre fraude de alimentos e de bebidas.
A INTERPOL é uma organização mundial de polícia internacional, com 190 países membros, sendo o Brasil membro desde 1953. Seu objetivo é permitir que as polícias de todo o mundo trabalhem juntas para fazer do mundo um lugar mais seguro, contando com uma infraestrutura de alta tecnologia de apoio técnico e operacional.
A Europol é uma agência da União Europeia responsável pelo enforcement (adoro este conceito) da lei, ou seja, fazer cumprir a lei, cujo principal objetivo é uma Europa mais segura para o benefício de todos os cidadãos da União Europeia, lutando contra o crime internacional e o terrorismo. A Europol considera que as maiores ameaças de segurança vêm de terrorismo, tráfico de drogas, internacional e lavagem de dinheiro, fraude organizada, a falsificação da moeda euro e tráfico de pessoas. Grifei fraude organizada para destacar a ligação da agência com o assunto.
À esquerda, Simone Di Meo, Interpol, França.
Fonte: site da Conferência
As ações conjuntas com foco em ameaças à saúde, segurança e produtos potencialmente perigosos passaram a ser um dos grandes objetivos destas organizações a partir do projeto criado em 2008, envolvendo todas as commodities, exceto tabaco.
Esta colaboração resultou em duas grandes operações anti-fraude, em 2011 e 2012, denominadas respectivamente OPSON e OPSON II, realizadas em vários países. Estas operações foram respaldadas por apoio analítico de alto nível, e resultaram na detecção de uma enorme quantidade de produtos fraudados.
A seguir veja alguns recortes de clippings sobre fraudes mostrados por Di Meo e se surpreendam com as quantidades envolvidas.
Autor: Simone Di Meo, Interpol, França
Veja a número de pessoas presas:
Autor: Simone Di Meo, Interpol, França
E veja mais dados sobre as operações:
Autor: Simone Di Meo, Interpol, França
Autor: Simone Di Meo, Interpol, França
Como resultado destas operações, os produtos mais sujeitos à fraude/ países foram: peixe – França; Azeite de oliva – Itália; leite – Islândia; mel – Turquia; sucos de frutas – Tailândia; chá, café e especiarias – Turquia e Itália; vinhos e aguardentes – Itália, França, Turquia e Reino Unido; molho de soja – Tailândia; carne – Colômbia; cubos para preparo de sopas – Dinamarca; molho de tomate – Itália e Egito; Queijo – Itália; caviar e trufas – Espanha e França; e alimentos orgânicos – Itália.
Algumas destas fraudes impactaram fortemente a segurança de alimentos, pela utilização de ingredientes nocivos à saúde, como óleo mineral em azeite de oliva, metanol em bebidas alcoólicas e comida contaminada que iria ser distribuída a pessoas necessitadas, dentre outras.
Não fique você agora desconfiando de tudo quanto é fornecedor destes produtos/ países, porque felizmente a maioria dos fornecedores é confiável. Mas como profissional da qualidade e da segurança de alimentos isto deve servir de alerta de que o sistema de seleção, monitoramento e verificação dos fornecedores deve ser reforçado.
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