Direto do GFSI
Antes do início da Conferência
Reinaldo Balbino Figueiredo participa do TWG Guidance Document Revision
No dia anterior à Conferência, encontrei o Reinaldo Balbino Figueiredo, um “colega brasileiro-americano”, o “Balbino”, que é como o conheço desde a época em que trabalhamos no INMETRO. O Balbino, ou melhor, Reinaldo, é um profissional que muito respeito, está nos Estados Unidos há anos e é Diretor Sênior para Programas de Acreditação de Produto e Processo da ANSI – American National Standards Institute (entidade americana equivalente ao INMETRO. Consegui a foto abaixo na internet – pena, porque a que eu havia tirado mostrava também o banner da ANSI.
Reinaldo também nos contou ter conhecimento sobre uma boa novidade proveniente do GFSI Technical Working Groups for Auditor Competence: num futuro próximo, haverá uma certificação única de auditores, válida para todos os esquemas, evitando, assim, o ônus que recai sobre os auditores e/ou empresas de certificação que têm hoje. Claro que deverá haver qualificação sobre requisitos específicos de cada norma, mas a certificação como auditor será única.
Também no dia anterior à Conferência, conheci uma brasileira-americana adorável, que já está há 28 anos nos Estados Unidos. Ela trabalha para a 3M e é Diretora de Contas Globais Estratégicas e Treinamento. (Alessandra, acabei pegando sua foto na internet, pois as que fiz foram apagadas por uma “bruxinha cibernética…).
Programa do evento
Para ver o programa do evento você pode acessar o programa no site da Global Food Safety Conference
Conferência Global de Segurança de Alimentos – Segurança de alimentos numa economia global
Prezados leitores,
A Conferência começou nesta quarta-feira, 06 de março, e vai até sexta- feira, dia 08. Relatarei o máximo que puder durante estes três dias, mas, como o nível de atividade é muito intenso, muitas das notícias, entrevistas e resumos das palestras serão postados a posteriori.
Fico feliz em relembrar que fomos nós da Food Design que, em 2010, tivemos a iniciativa de convidar o board do GFSI para ir pela primeira vez ao Brasil, para o Seminário de HACCP, que na ocasião teve o ITAL como nosso parceiro. Esta iniciativa chamou a atenção do board para o Brasil, que, em 2011, decidiu voltar para promover o GFSI Focus Day, cuja divulgação teve nosso total apoio.
Global Food Safety Conference 2013 – Barcelona
Conferência, dia 2: fraude em alimentos, o que você precisa saber
John Spink, diretor adjunto do programa de ações anti-fraude da Faculdade de Justiça Criminal da Universidade de Michigan, define a fraude de alimentos como “uma adulteração intencional pelo uso de ingredientes mais baratos, visando ganho econômico”.
John Spink, da Universidade de Michigan |
Historicamente, as questões relacionadas às fraudes alimentares não têm recebido a mesma atenção que a segurança de alimentos e o food defense, mas John acredita que a conscientização sobre o tema vem crescendo. Segundo ele, o aumento no número de fraudes é motivo de grande preocupação para o FDA. Em resposta, o órgão vem estimulando as empresas a reforçarem seus sistemas de prevenção e vigilância com base na avaliação de riscos. Paralelamente, o FDA vem melhorando seu sistema de resposta imediata e aumentando sua velocidade de reação ao público, à indústria e a outros atores da cadeia.
Conversando com o palestrante, soube que nos Estados Unidos há vários cursos de graduação e de especialização em prevenção de fraudes. Tendo em conta os desafios representados pelo cenário econômico em todo o mundo e o fato de que a oferta de alimentos vem se tornando mais global, John alerta para o risco de uma pressão crescente para que fornecedores inescrupulosos cometam fraudes relacionadas a alimentos. Também assinalou que fraudadores têm buscado cursos técnicos especializados em ações anti-fraude no intuito de encontrarem brechas no sistema. Lembrando do caso da melamina no leite, fraude ocorrida na China em 2008, e nas criancinhas que morreram em consequência desse trágico episódio, as ameaças são realmente assustadoras.
Conferência, dia 2: varejo e segurança de alimentos
- a multiplicidade de normas/esquemas
- a não suficiência de esquemas suficientemente adequados
- questões relacionadas à competência dos auditores
- normas que por vezes exigem padrões por demais elevados/ sofisticados
- a falta de follow up
- a falta de massa crítica em alguns países
Conferência, dia 2: tendência das práticas domiciliares de segurança de alimentos
Escolhi esta palestra porque tenho um especial interesse pelo tema, e também porque acredito que toda a sociedade de segurança de alimentos deveria estar mais atenta a esta parte da cadeia de alimentos.
Todos sabemos que uma parte significativa dos surtos acontece por descuidos, ou por falta de informação nas etapas que ocorrem nos lares. Alguns autores estimam esse percentual em 15% a 20%, mas em países menos desenvolvidos, onde as pessoas costumam se alimentar mais frequentemente em seus lares e consomem menos produtos industrializados, o número deve ser muito maior.
Christine M. Bruhn, PhD do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos, enfatizou a importância da segurança dos alimentos nos lares dos consumidores, relatando dados de pesquisa desde a compra dos produtos alimentícios até o seu armazenamento e preparo domiciliar.
Christine M. Bruhn, da Universidade da Califórnia – Davis |
Christine mostrou um gráfico com a porcentagem das pessoas que foram observadas visualmente lavando as mãos em momentos críticos do preparo de alimentos, como após manusear frango cru e quebrar ovos crus, ou antes do preparo efetivo dos alimentos. Detalhe: essas pessoas sabiam que estavam sendo observadas.
Veja só que resultados chocantes:
Observe que o número de pessoas envolvidas na pesquisa é muito significativo, cerca de 4500.
O dado que mais me chamou a atenção é que cerca de 50% das pessoas observadas afirmavam já ter tido algum curso ou formação relevante sobre segurança de alimentos. Se as pessoas agiam dessa forma mesmo sabendo que estavam sendo observadas, imaginem quais seriam os resultados se não soubessem…
Christine apresentou um grande número de dados de várias outras pesquisas, cujas conclusões resumo a seguir:
- a proporção de consumidores que não seguem os cuidados recomendados é muito alta
- a adesão real para um manuseio seguro não é tão grande quanto o comportamento relatado verbalmente levaria a crer
- se o alimento contiver agentes patogênicos, a contaminação cruzada é provável
- os educadores devem enfatizar as técnicas de lavagem
- as tecnologias avançadas podem significar mais proteção para osconsumidores
- os consumidores parecem receptivos à utilização de tecnologias avançadas para aumentar a segurança
O Dia 2 foi muuuuito longo. Fique no ar, ainda temos bastante informação pela frente!
Conferência, dia 2: a Chiquita é bacana no campo, a higiene na casa do consumidor nem tanto
Nesta semana, ficou um pouco mais difícil manter a produção dos posts no ritmo anteriormente previsto. pois quando voltei de viagem a montanha de trabalho havia crescido (felizmente…). Outro motivo da defasagem é que eu convidei os colegas cadastrados no nosso mailing para que viessem até a Food Design na terça feira passada para que eu pudesse mostrar pessoalmente o que foi a Conferência.
No dia 2, houve muitas outras palestras e sessões paralelas após o café da manhã. Vou fazer o relato de duas palestras que assisti e nas quais me esforcei para anotar o máximo possível, já que elas nos ajudam a refletir com profundidade sobre como devemos tratar as pontas da cadeia “farm to fork”.
Reduzindo riscos no nascedouro da produção
Joan Rosen, Diretora de Segurança de Alimentos da Chiquita Brands International dos Estados Unidos, proporcionou um abrangente overview da sistemática adotada pela empresa em sua cadeia produtiva.
Joan Rosen, da Chiquita Brands International |
O principal produto da Chiquita Brands é a banana, mas a empresa também produz outras frutas como abacate e abacaxi, além de saladas, frutas desidratadas e frutas cortadas prontas para o consumo.
A distribuição da empresa está concentrada principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. As frutas são cultivadas em vários países tropicais conforme o mapa abaixo.
(Fonte: http://www.chiquitabananas.com)
Após ler o meu relato, o leitor certamente irá concordar que não é à toa que a Chiquita Brands é líder num mercado aparentemente tão banal como o de… bananas.
Para a Chiquita, a segurança de alimentos começa com o controle do campo, o que não chega a ser uma novidade. Mas o que me chamou atenção é que fazem o controle de todos os taliões, mapeando-os para determinar cada talião liberado e cada talião reprovado para a produção. Assim, através de um minucioso processo de rastreabilidade, a empresa garante que esse mapeamento de aprovação dos taliões seja rigorosamente respeitado.
Segundo Joan, cada etapa do processo é garantida conforme o programa de integração denominado “Sete Etapas da Prevenção”:
- Boas Práticas Agrícolas Integradas (GAPs)
- Auditoria de todas as etapas da cadeia produtiva
- APPCC/HACCP integrado
- Educação progressiva
- Sistema de rastreabilidade integrada
- Sistema de Food Security
- Gerenciamento avançado de riscos
Joan relatou ainda que os GAPs da Chiquita excedem os requisitos do FDA e do Leafy Greens Marketing Agreement (LGMA), acordo subscrito por cerca de 99% dos produtores agrícolas da Califórnia para elevar o padrão de segurança de alimentos. A lista dos grupos de requisitos dos GAPs da Chiquita se assemelha à do GlobalGAP, porém há um grupo de requisitos destinado a aprofundar toda o histórico do terreno do cultivo e dos terrenos vizinhos, bem como as alterações ocorridas ao longo do tempo.
A equipe de Joan Rosen é formada por mais de 40 especialistas, de agrônomos a microbiologistas (sendo muitos deles Ph.Ds), focados na excelência da segurança de alimentos. Essa equipe realiza milhares de auditorias por ano desde o campo e as packing houses até a estocagem e distribuição.
(NR: a cobertura da outra palestra mencionada no início seguirá no próximo post.)
Conferência, dia 2: visita à área dos expositores
Todos os anos, sempre há uma área reservada aos expositores no local da Conferência. Aqui está uma vista parcial dessa área, tendo em primeiro plano o stand da SQF, um dos esquemas reconhecidos pelo GFSI.
Como já mencionei, um dos melhores aspectos desses eventos é a oportunidade de rever amigos. No stand do BRC, reencontrei John Kukoly, que esteve em São Paulo em novembro de 2011 para ministrar, a convite nosso, um curso de implementação de BRC Food Safety, já na nova versão 6.
Jessica Wigram, da equipe organizadora do GFSI, e John Kukoly do BRC |
Já no stand da IFS, reencontrei a Dra. Andrea Niemann-Haberhausen da DNV Alemanha, que no ano passado deu uma “aula-show” em conjunto com Ralph Geyer da Hygenius Alemanha no lançamento do curso de pós graduação lato sensu em SGI – Sistemas de Gestão Integrados.
Dra. Andrea Niemann-Haberhausen da DNV, e Caroline Nowak e Nina Lehmann da IFS |
Este curso, que em 2012 terá sua segunda edição, é uma iniciativa da Food Design em parceria com a Universidade Positivo. Mais informações estão disponíveis em http://www.fooddesign.com.br/pos-graduacao.php
Conferência, dia 2: sessões plenárias
Novo paradigma regulatório em um mundo interconectado
Dando continuidade à cobertura do dia 2 da Conferência, depois das sessões do café da manhã vieram as plenárias. Ainda que não tenha sido a primeira em ordem cronológica, vou dar um destaque especial à palestra de Michael Taylor, Vice Comissário da área de alimentos do FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos, que sinalizou o novo paradigma na garantia da segurança de alimentos decorrente da publicação do Food Safety Modernization Act (FSMA), em 2011.
Dos vários pontos chave apresentados, Michael afirmou que a colaboração público-privada terá um papel fundamental na implementação do FSMA, especialmente no tocante à certificação de terceira parte para o Programa de Verificação de Fornecedores Estrangeiros.
O Programa de Verificação de Fornecedores Estrangeiros está fundamentado no gerenciamento privado da cadeia de alimentos por parte dos produtores. Em vez de se basear em inspeções feitas nos portos de entrada, o FSMA passa a responsabilizar os importadores por verificar que o alimento tenha sido produzido de acordo com as normas americanas, ou controlado preventivamente para promover o nível requerido de proteção à população, e isto de uma forma que seja transparente ao FDA. Ou seja, os importadores devem gerenciar sua cadeia produtiva de modo a garantir a segurança dos alimentos exportados para os Estados Unidos.
Michael afirmou ainda que o congresso dos Estados Unidos reconheceu a importância do papel das auditorias e certificações de terceira parte. A exemplo do GFSI, o congresso daquele país e o FDA sabem que uma auditoria privada rigorosa e objetiva pode agregar ao sistema de supervisão das autoridades regulatórias, mas questões como rigor e objetividade devem sempre ser discutidas.
Michael Taylor esclareceu que as auditorias não irão substituir inteiramente as inspeções regulatórias. A supervisão adequada de importadores e de unidades produtivas estrangeiras pelo FDA continuará tendo um papel importante, até para servir de apoio ao estabelecimento e à manutenção do novo sistema de certificação.
O papel do GFSI no novo sistema
Finalizando sua apresentação, Michael afirmou que o GFSI terá um papel especial na construção do novo sistema de importação para que ele seja eficaz, transparente e de alta credibilidade, e que várias questões devem ser trabalhadas e garantidas com o apoio da entidade. A título de exemplo: como garantir um adequado nível de experiência e capacitação para os auditores? Como manter sua independência e integridade? O que fazer para atrair auditores capacitados a seguirem carreira nesta área de atuação?
Meus comentários:
Fiquei bastante entusiasmada com o novo paradigma, embora partilhe das mesmas dúvidas levantadas pelo representante do FDA.
Minha visão atual é a de que a competitividade exacerbada entre as certificadoras e a busca de orçamentos cada vez mais baixos por parte das empresas tem transformado os preços das auditorias em um verdadeiro leilão, alijando do mercado excelentes auditores sêniores, desestimulados pelo valor disponível para sua remuneração.
Tenho manifestado publicamente o meu receio de que esta “guerra” um dia venha a colocar em risco a credibilidade do sistema de certificação. Mesmo assim, estou otimista e acredito que com este novo player (ou seja, o FDA) no horizonte, em breve a escolha da certificadora deixará de ser um leilão por parte de algumas empresas para se tornar uma parte essencial de seu esquema de segurança, como aliás já o é para muitas outras. Neste novo tempo, as certificadoras e consultorias serão de fato encaradas como parceiros de negócio, permitindo uma justa remuneração para os auditores e consultores. A certificação será certamente mais respeitada, e sua credibilidade será inquestionável. Até perante o FDA!